POR UMA CATARSE SOCIAL

fraternite-reuters1Texto retirado do blog Outro Mirante   /  Imagem: Agência Reuters 

Só existe jornalismo numa sociedade democrática, e nesta, a liberdade de expressão é um direito irrefutável. Toda provocação gera uma reação, e no caso da revista francesa – Charlie Hebdo – a resposta foi tão escatológica quanto suas charges. A chacina ocorrida no dia 07 de janeiro denota não somente a barbárie que o fundamentalismo religioso pode promover como também o poder midiático estarrecedor.

  Crescente, a imigração muçulmana na Europa tem refletido em uma série de problemas socioculturais e humanos. Em solo francês essa população é marginalizada e estigmatizada. Como o Estado é laico, foi proibido o uso da burca e outros símbolos Islâmicos em público. O argumento utilizado – de preservar a segurança -, é na verdade um véu para esconder a xenofobia; já que, por exemplo: os padres não foram proibidos de usarem batinas. Portanto os atentados sucedidos, embora veiculados como religiosos, também inserem um cunho extremamente político.

  Quando se banaliza algo, no sentido de tornar comum, aquilo perde sua glória, depois de um tempo deixa de ser primordial, peculiar. Com a onda terrorista criada pela mídia estadunidense, não seria esse um caminho? Banalizar o Islã a fim de empregá-lo apenas como mais uma religião? O semanário em questão, mesmo que sob uma linha editorial insólita e agressiva, trabalha em cima disso. Sua ideologia acerca das religiões em geral abre diálogo sobre a responsabilidade ao se se proferir palavras e sobretudo: publicá-las.

  Argumentos devem ser refutados com argumentos; uma discussão ou debate em torno de determinado assunto só é construtivo quando todos os lados são ouvidos de forma equivalente. Logo, como crucificar a violência daqueles que não foram atendidos, nem levados a sério até o início desse ano? A atitude dos fundamentalistas não pode ser defendida, mas a hipocrisia francesa tampouco deve ser justificada.

  Visto que são menosprezados diariamente, é urgente que as reivindicações dessa minoria oprimida tenham um peso maior. A representatividade e valorização muçulmana é essencial para se diminuir as desigualdades e preconceitos. A livre circulação de ideias, por sua parte, garante a comunicação entre diversos pontos de vista, sendo crucial numa sociedade multicultural. Vale lembrar aqui a máxima de Voltaire – pensador iluminista – “posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizer”, esse é o fundamento da liberdade e é nele que devemos atentar, não ignorando os outros dois lemas da constituição francesa: igualdade e talvez o mais importante – fraternidade.